segunda-feira, 7 de junho de 2010

apenas idéias_
MEMORIAL CONCURSO PARQUE TANCREDO NEVES-ES


A cidade é hoje um diagrama de forças.


Invade, empurra, redireciona, agrega... aterra

O terreno em questão é um corpo

Atravessado, reage

Artifício da intervenção, nasce da ação do homem

Projetar, mais do que artifício, é uma ação

Que se manifesta pela intervenção

Traçar uma linha é a busca pela descoberta

Busca romper paradigmas, a lógica do eixo único

Quebrando a visão determinística do lugar criado simplesmente pelo arquiteto

O projeto ambiciona liberdade

A livre apropriação

A multiplicidade se manifesta no encontro com o outro

Na criação de subjetividades

No encontro com o lugar

Lançamos mão dos eixos bidimensionais

Propomos alçar um vôo

Movimentar o tectônico

Criar topografia

Conflitar o natural com o construído

A idéia é uma performance

Como se pegássemos uma escada e subíssemos

Redescobrindo o encoberto, o obstruído

A idéia é uma ação

Propomos uma visão do todo...

Panóptica... Não no sentido de controle, mas de vislumbrar o heterotópico que se manifesta na paisagem

Nos mares e morros do lugar

A sucessão de seções topográficas acena para vislumbrar o todo e acolher o indivíduo

Um dispositivo de descoberta e subjetivação

Os morros emprestam sombra e acomodam os que querem olhar o pôr-do-sol

Permite o evento enquanto arquibancada e acesso às partes mais elevadas do programa

Uma hierarquia sutil que eleva e envolve os usos e evita, na medida do possível, barreiras e limites materializados em cercas e muros

Rompe o limite entre a terra e a água

Subtrai da margem

Adiciona a água

Re-relaciona terra com terra

Torna um só elemento água

Decompõe o significado de margem e a linha determinadora de distâncias e limites

Projetamos como peles

A existente mais a pele natural

Adicionamos superfícies, conectores e pontos de conexão

Re-comunicando e re-significando o território

Interpolando possibilidades de ações,

distribuindo os usos pelo sítio.



Um mosaico de situações, observadas no local e levadas à potência. A compreensão do território de um parque que fora a plataforma da coletividade e agora se expressa em resquícios de atitudes de lazer, não se trata de um espaço estéril, mas simplesmente desprovido de gentileza para com os que ainda por lá transitam. Um terreno vago, um terreno da cidade. Um terreno amplo que despojamos equipamentos de esporte, lazer, ócio, cultura. Nunca implementados em bolsões únicos funcionalmente, Criamos pontos de tensão e convidamos para o passeio. Não o caminhar preguiçoso, ao rés do chão. Dotamos de turbulência a topografia. Novos pontos cotados surgem positiva e negativamente. Num embate de esforços invisíveis que dialogam e sem complementam. Criam contraposição. Surgem “morrinhos” de brincar para as crianças. Numa tentativa de tirar a mesmice das infâncias da cidade. Espaços para pular, subir, rolar no gramado. Vislumbrar o além do local. O que está fora dialogando, mar e montanhas, cidade ao outro lado. Ponte, Passarela que se chega sobre a rodovia. Chega-se pelo alto e se vislumbra o conjunto. Uma tela divulga os acontecimentos do parque e da cidade aos que chegam a Vitória pela Segunda Ponte. Os conjuntos edificados não determinam barreiras. Se pode subir pelas coberturas. Calotas de concreto seccionadas para se entrar. Casca que chão que perfaz o ginásio. Conclui-se em sombra e abrigo. Uma quadra artificial se posiciona sobre o ginásio. É artificial, portanto artifício se faz. O campo de areia que dialoga com a praia artificial que recebe os banhistas da região. Escassez de praias e balneários em Vitória, por que não se construir uma. As rampas acomodam o acontecimento espontâneo. Um espetáculo ao ar livre ou o ensaio da escola de samba do bairro. O parque é ao mesmo tempo passarela e apoteose. Num colorir proporcionado pela vegetação implementada além da existente. Ipês amarelos e rosas por exemplo. Pitangueiras e araçás adoçam o paladar de pássaros e usuários. Tenta-se trabalhar cada recanto. A piscina que mergulha no mar se fazendo uma só. O prédio da garage de barcos que toca e avança sobre a água. Todo o contexto está posto e ligado por links que se delineiam através da luz - luminárias lineares de perfil “I” com lâmpadas fluorescentes e sua alma - e sugerem conexões possíveis entre lugares e usos. O ponto é um prisma. Uma volumetria simples dos módulos de uso múltiplo. Que quando abertos desvelam variações formais de seu cerne. Múltiploe apropriado para vendedores ambulantes, guaritas, banca de revistas, enfim, é mutante a qualquer uso que se demandar. Esse projeto na verdade é um exercício de nossas afecções, um desejo para se encontrar num lugar.