segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sobre BRT-GV




Parabenizo-os pela coragem do debate!

Participei de uma das etapas do Projeto do BRT, fazendo parte do projeto geométrico como projetista e não como definidor da concepção adotada, junto à uma equipe de engenharia contratada pela SETOP.

Muitas foram as limitações, principalmente, por uma visão restrita do desenho urbano da cidade e a concepção de sistema de transporte que ultrapassa a readequação física das vias.

Acho que o partido da plataforma de passageiros é interessante, muito melhor que o estudo que tive acesso na época do projeto que participei. Alguns dos questionamentos era a questão da altura base da plataforma, que confere a passagem em nível para o ônibus. Existe o modelo de ônibus com acesso rebaixado - não sei se já definiram qual o modelo será implantado? Inclusive aqui em São Paulo existem dois tipos de ônibus, mas não existe a plataforma pensada para o sistema BRT (que pressupõe cobrança da passagem na entrada da plataforma, como em Curitiba), mas as idéias de Corredores Exclusivos de Ônibus que é completamente diferente em muitos aspectos, e muitos se confundem.

Mas o partido adotado é interessante, principalmente se for entendido como uma peça montada parcialmente ou totalmente - num contexto de pré-fabricação. Funciona como dito, como pontilhões ferroviários ou mesmo passarelas, sendo uma viga-plataforma (assim pode-se pensar como peça única) que ela possa se ajustar à cota de acesso tanto do BRT, quanto a de um possível VLT (proposta da Prefeitura de Vitória) que se faz em nível mais rebaixado.

Fiquei pensando se fosse realmente uma plataforma pré-montada e transportada para o local, talvez modulada pela carroceria do veículo (ver http://www.megatranz.com/conteudo/noticiasint.php?cod=6) que deslocaria da pré-montagem até a instalação - implantada sobre as cabeceiras estruturais (ajustando a cota do piso) com as rampas e patamares de acesso - digo isso, pois são várias as situações de projeto - resultantes do traçado e local de implantação (vejo que isso teria que ser revisto no projeto executivo, para posicionar as estações em traçado ajustado, com ultrapassagens constantes, e a previsão de possível implementação do VLT, que entendo ser mais interessante que o BRT).

Então, pensando no sistema de montagem, o partido adotado, o ganho de escala pela pré-fabricação e pré-montagem, o ajuste de cota do piso pelas cabeceiras de acesso (chegando ao nível do BRT ou do VLT), fica - a meu ver - ainda uma estrutura-plataforma que se apóia como ponte, com o vão embaixo da plataforma livre (imagino que venceria um vão de 30 a 60 metros de acordo com a altura ao se comportar como treliça plana por exemplo), sendo que a previsão das plataformas em projeto teriam a modulação de 30 metros, com plataformas de 3 x 60 metros no caso das plataformas alternadas ou de 5 x 90 metros no caso das plataformas que concentrariam fluxos alimentadores e locais - notadamente em frente aos atuais terminais do sistema TRANSCOL e nos locais de grande concentração de pessoas).

Funcionando como ponte, haveria a economia de base/fechamento abaixo da plataforma - na possibilidade do vazio - uma leve sensação de ruptura entre os lados pelo vão ao se olhar  para a plataforma (sendo um dos questionamentos negativos as mesmas, assim como a impossibilidade de se adequar ao VLT),

Ressaltar o vão, afirmando a plataforma na sua condição de objeto único, estrutural, plástico, e como dito - simbólico por remeter à Ponte Florentino Avidos me parece razoável.

Assim fica a possibilidade de um sistema instalação das plataformas quase conecte e use, se também for pensado nos projetos complementares essa condição de plug-and-play da plataforma, ganhando assim no tempo de implantação do sistema e menores impactos no trânsito à luz da execução das obras.
São somente reflexões sobre possibilidades, que após participar em etapa preliminar do projeto do BRT [sob a defesa pelo sistema do VLT (sistema troncal) + Aquaviário (sistema metropolitano em anel hidroviário pela Baía de Vitória e transversal incluindo os rios e canais - tornando-os renavegáveis - com alcance local) + Cicloviário (deslocamentos locais integrados ao sistema), com a possibilidade de ônibus locais (menores num traçado viário mais capilar) integrados aos terminais de integração intermodal estabelecido como infraestrutura da cidade (reforçando sua função de equipamento público metropolitano).

Para que não ocorra sobreposição de linhas e competição entre modais numa idéia de complementaridade sistêmica de acordo com as vocações de cada modal e localidade. Deve-se ressaltar a necessidade do debate de políticas de integração das cobranças de passagem, rompendo consórcios fragmentários - entre sistema de transporte municipal e metropolitano - e a implantação, como em concepção aqui em São Paulo, mas não aplicado plenamente, do Bilhete Único que retoma o debate político sobre sua função social e democrática de acesso aos meios de deslocamento e mobilidade nas cidades.

Acho que o artigo que coloca sobre a plataforma do BRT abre um debate importante e qualificado, que deve se estender sobre os impactos e desenho urbano, a escolha de sistemas de transporte para as cidades, a necessidade de se pensar a integração com outros modais - principalmente os não motorizados - a escala e o desenho dos espaços públicos para quem se desloca a pé, e a nossa condição de ilha que permite o transporte aquático inexoravelmente - e não há estudos que comprovem o contrário, sob a desconfiança de se estar fazendo um plano “rodoviarista” para uma cidade historicamente marítimo-fluvial como Vitória com alcance para a região metropolitana.

Enfim, muitas questões e possibilidades, desencadeadas vossa ação corajosa.

Acho que realmente falte coragem para colocar as questões sobre a cidade e ética para se debater projetos e arquitetura publicamente, fora de audiências, como uma prática cotidiana que foge a temerosidade autoral-corporativa de classe, esquecendo-nos que o foco da arquitetura é a cidade e seus habitantes.

Cordialmente,

Karlos Rupf