sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


HOMEM CORDIAL I

Sobre o Rio 2016:

“O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição (...). De acordo com esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o corpóreo (...)1

Sempre coercível o debate da sociedade brasileira com o da cidade, que, atravessando décadas, detém em essência essa herança pormenorizada de relações humanas... Clara, desvelada, aqui, quase sempre intercambiada entre os mesmos ou semelhantes - variando de situações - agentes da formação de nossas cidades e, por conseguinte, presentes subliminarmente como mantenedores de nossas instituições. Manifesto “o jeito brasileiro” ou “jeitinho” ao qual o autor também revela em nossas relações próximas no trato religioso e familiar, trazendo para si uma intimidade quase patética. O “homem cordial”.

Este (...) “Formado nos quadros da estrutura familiar, o brasileiro recebeu o peso das “relações de simpatia”, que dificultam a incorporação normal a outros agrupamentos. Por isso, não acha agradáveis as relações impessoais, características do Estado, procurando reduzi-las ao padrão pessoal e afetivo. Onde pesa a família, sobretudo em seu molde tradicional, dificilmente se forma a sociedade urbana de tipo moderno”2


Possivelmente, e como recurso de linguagem para evadir se usam aspas e pluralizações – “me parece” - que os comitês, institutos, conselhos, prefeituras e profissionais, não superaram em maior ou em menor escala o nosso carma colonial, em que imperam, sob o auspício de uma democracia do algo quase, uma pseudo-verdade de nação. Tal desejo onipresente de inserção global-capitalista-urbana entra em paradoxo com um contexto “feudal” ou estanque, cheio de amarras sociais e fundamentado num eloquente primitivo, que bem remomora tempos conjugados no pretérito do presente da história do Brasil.

É como se convidássemos o time visitante para jogar bola perto da cerca do latifúndio, condicionando assim, somente o time que convida participar da partida. O público está mais uma vez sentado na metáfora de arquibancadas vazias do comentarista ausente de um jogo imaginário...

1 e 2: Trechos do Livro “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda -1936

POSTADO EM:

http://concursosdeprojeto.org/2009/01/28/madrid2016/#comment-287

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